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Biocida feito com óleos de plantas amazônicas pode substituir agrotóxicos

Pesquisadores querem produzir um tipo de inseticida que não cause prejuízos ao meio ambiente, aos agricultores e aos consumidores
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Foto: Divulgação- acritica.com Manaus (AM)

Um biocida de liberação controlada produzido a partir de óleos essenciais extraídos de plantas coletadas da região Amazônica está em fase de desenvolvimento com a finalidade de combater a ação de microrganismos como insetos, ácaros, fungos e bactérias em plantações de frutas como o mamão, o abacaxi e o cupuaçu. Os pesquisadores pretendem produzir um tipo de inseticida natural que não cause prejuízos ao meio ambiente, aos agricultores e aos consumidores, e que tenha eficiência suficiente para substituir, de maneira sustentável, os agrotóxicos sintéticos disponíveis no mercado.

A pesquisa é desenvolvida no Laboratório de Polímeros Nanoestruturados (Nanopol), pelos pesquisadores do Departamento de Física da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), através do Programa de Apoio Estratégico ao Desenvolvimento Econômico-Ambiental do Estado do Amazonas – Amazonas Estratégico, edital Nº 004/2018.

O coordenador do projeto e pós-doutor em Bionanotecnologia, Edgar Sanches, explica que os óleos essenciais, responsáveis pelas ações inseticidas e acaricidas, são substâncias químicas naturais e de baixíssima toxicidade. Segundo o pesquisador, a concentração utilizada nessas formulações é tão baixa que é possível considerá-las atóxicas, ou seja, não nocivas à saúde.

Os estudos realizados até o momento mostram que existem óleos essenciais com ações similares aos produtos sintéticos. Outro ponto é que a equipe também obteve sucesso nas formulações de nanopartículas feitas a partir de polímeros biodegradáveis, além de elevada eficiência de encapsulamento e ação prolongada desses óleos essenciais com a liberação dessas nanopartículas.

O pesquisador explica que os agrotóxicos naturais à base de óleos essenciais possuem constituintes altamente voláteis e por isso a aplicação direta dessas substâncias nas plantas se torna inviável. “É aí que entra a nanotecnologia, ela permite que possamos encapsulá-los, ou seja, inseri-los dentro de uma nanopartícula feita de polímeros biodegradáveis, para protegê-los da volatilização”, explicou.

Conforme Sanches é possível comparar essa partícula a uma bala recheada, onde o recheio é o óleo essencial e a casca da bala é o polímero biodegradável, e no momento em que essas nanopartículas recheadas de óleo essencial são aplicadas sobre as plantas, as cascas externas feitas de polímeros biodegradáveis se rompem e liberam o óleo essencial diretamente sobre as plantas e os microrganismos. “Essa liberação pode ser modulada, ou seja, ela pode ser programada para que a liberação do óleo essencial aconteça durante um longo período de tempo. Essa é a liberação controlada ou liberação prolongada. Essa tecnologia faz com que a concentração do óleo essencial utilizado seja baixa, além de diminuir consideravelmente o número de reaplicações, já que o efeito é prolongado, podendo muitas vezes ser realizada apenas uma aplicação semanal”, detalhou

Segundo Sanches as pesquisas para desenvolvimento desses biocidas são extensas e multidisciplinares por se tratar de produtos naturais e biodegradáveis com formulações 100% constituídas de produtos biodegradáveis e atóxicos. Para o pesquisador o desafio é precisar a estabilização desses sistemas, ou seja, mantê-los estáveis, livres da rápida degradação e com elevada eficiência de encapsulamento pelo maior tempo possível, para que um dia essas substâncias possam vir a se tornar produtos de prateleiras.

Desde 2013 o grupo de pesquisa vem estudando e identificando pelo menos 15 espécies de plantas, em que os óleos essenciais são altamente eficazes contra insetos, ácaros e larvas, especialmente as de Aedes aegypti. “Esse rastreamento permitiu chegarmos a quatro espécies com elevada ação biológica, que se tornaram o carro chefe das pesquisas realizadas em nosso laboratório”, explicou.

Biocidas x Agrotóxicos

Edgar explica que o controle químico por meios de métodos convencionais que envolvem o uso de agrotóxicos sintéticos é atualmente o recurso mais utilizado para combater pragas nas plantações. Por esse motivo é que os pesquisadores estão desenvolvendo um produto que possa substituir agrotóxicos químicos por outros de igual ou superior eficácia. A partir disso, indicar a aplicação dessas substâncias como uma alternativa promissora para reduzir o uso indiscriminado de defensivos agrícolas.  “O que se discute aqui não é a função química dos agrotóxicos. O que se discute aqui é a ação consciente do homem, ou seja, a criação de regulamentações eficazes e condizentes com a realidade do país, o uso de concentrações corretas, a manutenção de um número mínimo de reaplicações, o cuidado com a possível contaminação de águas e o cuidado com o manuseio dos produtos, sem ainda deixar de pensar, claro, no consumidor final”, contou.

O pesquisador explica que existem disponíveis no mercado vários produtos de base tecnológica e de ação prolongada, como fármacos, cosméticos, produtos para animais domésticos (linha pet), suplementos alimentares, fertilizantes, repelentes e até mesmo agrotóxicos. No entanto, ainda não estão à disposição no mercado nenhum tipo de biocida de base nanotecnológica e de liberação controlada feito integralmente a partir de produtos naturais, atóxicos e biodegradáveis. “Existem inseticidas de liberação controlada baseados em substâncias ativas sintéticas e com toxicidade ainda duvidosa, como o DEET que é um composto químico utilizado como repelente de insetos”, destacou.

Edgar ressalta que esses compostos químicos convencionais causam um enorme prejuízo ao meio ambiente com a contaminação do solo e das águas, especialmente de lençóis freáticos, para os organismos aquáticos, além de riscos às pessoas que o manuseiam e ao consumidor final. “Embora alguns agrotóxicos façam uso da nanotecnologia na formulação de inseticidas de ação prolongada, nenhum deles é baseado na ação de óleos essenciais e de nanopartículas feitas a base de polímeros biodegradáveis. Esse é um nicho de mercado que pode ser explorado, especialmente porque as pessoas estão muito mais preocupadas com produtos que preservem o meio ambiente, o próprio consumidor, e que sejam formulados a partir de materiais naturais e de baixa toxicidade. Além disso, a utilização sustentável de nossos recursos regionais torna esse biocida ainda mais interessante”, disse o pesquisador.

*Com informações da assessoria de imprensa


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